segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

A incrível máquina que traduzia...


Ah ! Não há bem que sempre dure, dizia a Bisa, e as gloriosas férias acabaram... mas por sorte também não há mal que nunca se acabe, complementa o dito popular, portanto espero que coisas boas aconteçam nesse ano do Cavalo... 

Adeus brisa do mar ! Olá floradas na serra...

E aqui estamos nós, na eterna busca do amor, seja online ou offline, seja eterno ou efêmero, o amor que move montanhas e consegue milagres, só o amor mesmo para fazer um casal que não consegue trocar uma única palavra, se apaixonar...
E vocês, céticos, me dirão, eles eram surdo-mudos ? E eu, romântica responderei, nãããããããã... 

Mas vamos com calma e sem briga, deixa que eu conto essa maravilha que ocorreu na casa da minha amiga Elaine.

Elaine, pra quem não sabe ou não lembra, estava namorando um irlandês ruivo e sardento, Gerry, e tudo combinado para que o moço viesse passar o verão no Brasil, porém eis que um outro irlandês, amigo-quase-irmão do tal ruivinho, empenca de vir também, e Elaine topou, e não apenas topou como convidou uma colega do trabalho para uma dobradinha, um double-date, um encontro do tipo, leva um amigo que eu levo uma amiga, prática muito comum em nossa sociedade para que a terceira perna da mesa não fique segurando vela e empatando os beijos...

No aeroporto, Elaine lá, linda e saudosa do seu príncipe sardento, e Graziela, a amiga e colega, meio ansiosa, já que ao contrário de Elaine que fez seu cursinho de inglês online e conheceu o gatinho, Grazi não falava nem sequer "I love you", quanto mais "Thank you very much" !
Pois é, acredite se puder, a moça era mais do que tímida em relação à línguas, digo línguas faladas, já que línguas beijadas, ah... deixa pra lá...
Mas o que faltava em habilidade para conversar Grazi compensava com um imenso entusiasmo, um corpinho curvilineo e um sorriso escancarado.

Finamente os dignos representantes da Ilha Esmeralda desembarcaram no Aeroporto Internacional, e entre hellos e olás, kisses e beijos, foi se a comitiva para um almoço bem de verão carioca, feijoada, oras...
Isso sempre vai me espantar, o calor medonho do Rio e a panelona de feijão com linguiça, rabo, orelha e tudo do porco ! Ah, eu gosto de feijoada, mas no inverno da Serra, no Rio não dá ! E os gringos ? Devem ter suado ao ponto da desidratação quase fatal, mas compensaram na caipirinha e na cerveja gelada, visto que sobreviveram muito bem.

Quando Elaine me contou essa história, confesso que toda minha curiosidade se fixou no fato do casal Grazi e Thomas não poderem se falar ! Jee-sus, eu ia morrer entalada, falo muito, me comunico o tempo inteiro, como ficar muda diante de um homem charmoso ? Eu ia fazer mimica, careta, o diabo, mas calada não ficava !
Foi então que Elaine me explicou que o rapaz tinha uma "máquina-que-traduzia" ! Ah meu pai, isso foi a conta do chá ! 

Uma "máquina-que-traduzia" ! Uau, quantas possibilidades para uma mente fértil e um tanto perturbada igual a minha ! Imaginei um robozinho com voz de pato, aquela voz que botam nas testemunhas que não querem se identificar, e falando em português para Grazi, tudo que o Thomas dizia em inglês... e pior, já achei que o tal robozinho ia até melhorar as frases, tipo, Thomas dizia : "Que horas são ?", em inglês, of course, e a máquina, achando aquilo muito nada a ver, já mudava para : " Que importa o tempo, se tenho você ao meu lado", e Grazi, que nada sabe, ganhava um namorado bem mais interessante... E enquanto Elaine ia me contando, a minha mente fugidia, já tramava um romance paralelo, em que o robô falante se apaixonava pela Grazi e começava a sabotar a tradução para fazer o rapaz parecer um idiota completo, e pior, falava mal do homem, contava todos os podres dele e dizia que já tinha viajado meio mundo conhecendo as mulheres mais diversas, que o rapaz era um safado e que ela merecia um amor muito maior...

Estava eu, imersa na minha fantasia, quando Elaine, via telefone, me deu um sacode : "Acorda mulher ! Estou horas falando sozinha, onde você se meteu ?"

Nossa, me sentí puxada de volta ao mundo dos vivos, e realmente não tinha como disfarçar... 

"Errrrr.... Hummmm.... Elaine,desculpa, desculpa mesmo, me conta tudo, acho que minha cabeça ainda está nas férias ( mentira deslavada), mas antes, me diga uma coisa, como era essa máquina ? Parecia com o que ?"
E ela : " Era como uma calculadora grande, o Thomas digitava a frase em inglês, e na tela aparece em português, entendeu ? "
"Mas, só assim ? Sem som ? Sem voz de pato ?"
"Voz de pato ???? Você não tá bem, amiga !"

Puxa, só isso ? Sem voz ? Nem sequer voz de pato ?
Ah, mundo real, como você é chato !





imagem by debra-marie.deviantart.com

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