terça-feira, 30 de julho de 2013

O Shitzu


Uma amiga me disse : "Não saio com homem que tem cachorro."

Eu, confesso, fiquei pasma.
Homem que gosta de bicho, de criança e da mãe da gente, não da dele... todos os três itens, sem exceção, isso não existe ! Só o amigo gay, que obviamente não conta nessa equação da busca do "ele online"

Voltando à minha amiga Patrícia... aquela que não sai com homem que tem cachorro.

Depois de escutar a afirmação eu percebi que tinha coisa por trás disso, tipo, embaixo desse angu tem caroço, ou embaixo dessa ração tem mistério.

Patrícia, uma loura baixinha, esperta e com uma voz rouca que  faz com que ela pareça bem mais alta do que na verdade é, além dos 10 cm usuais de salto, estava buscando seu príncipe online quando se deparou com André, um professor de filosofia com uma bagagem cultural vastíssima, um ar blasé e um certo olhar de peixe morto que combinava bem com ele, com Lacan e outros itens além da minha vã filosofia.
O filosofo e a espoleta se deram bem, nesse caso os opostos se atraíram, e diga-se... ambos prestavam mais atenção ao que diziam do que ao que "se" diziam... até porque não falavam a mesma língua, porém era interessante, embora indecifrável, assim como um ritual de passagem dos aborígenes australianos, há que ser um bom antropólogo para entender.

Conversa vai-conversa vem, ele no filosofês e ela no burguês, até que finalmente um nome veio a tona, e nome de mulher, o que fez soar o bipe de Patricia - Charlotte !

Charlotte era a cachorrinha de André, uma criatura mimada da raça Shitzu que sabia ser a dona e senhora do pobre homem, e digamos, uma senhora autoritária, que para tudo e para nada revirava os olhos de bolinha de gude e mostrava a pontinha da língua cor de rosa. Charlotte tinha horários semanais de coiffeur, figurinos dignos de Pompadour, e tratamento vip... Charlotte não tolerava ficar só, ou não ser o centro das atenções, Charlotte não dormia sozinha. Charlotte era ciumenta como um pequeno Otelo canino, e não exitava em mostrar os dentinhos brancos e rosnar caso alguma outra fêmea tocasse no seu dono...
Em sendo assim, era no minimo difícil namorar André, mesmo que minha amiga fosse uma santa amante dos bichinhos, e bem... Charlotte não era um animalzinho qualquer, era uma princesa russa que nasceu shitzu..
Déspota esclarecida, cravou os dentinhos brancos na perna de Patrícia durante um jantar japonês no apartamento de André. Furou a calça de jeans resinado de 3.600 reais (uma pechincha) de Patrícia, causou uma ida (desnecessária) ao pronto-socorro ("ela é totalmente vacinada e mais do que limpinha", clamava André) e o termino do romance.

Depois de ter ouvido a narrativa, perguntei, "mas Pat querida, não era esse moço meio obcecado com essa Charlotte ? Sera que colocar TODOS os homens que gostam de cachorro na mesma categoria não é um pouco de exagero ?"
A resposta foi : " Já pensou se fosse um rotweiller o estrago que teria sofrido a minha calça ?"

Diante dessa lógica cartesiana, me calei.

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